Soro caseiro: para o que serve, como funciona e quando usar

Sabe aquela mistura rápida que seus pais ou avós faziam para você tomar quando passava mal, a situação ia piorando e acabava tendo vômitos e aquele desagradável “piriri”?! Era um soro caseiro!

Uma solução de reidratação oral composta por açúcar, sal e água que, quando preparada em proporções adequadas, é capaz de auxiliar de forma ágil e acessível na recuperação de quadros graves de desidratação, causados geralmente por diarréias e vômitos.

Não à toa, essa receita aparentemente simples tem sido passada de geração em geração sendo conhecida em todo o mundo. Saiba os riscos da desidratação para a saúde e compreenda como o soro caseiro atua no organismo, além de aprender de uma vez por todas como prepará-lo corretamente!

Desidratação: causas, riscos e consequências para a saúde

A água é essencial à vida! Um adulto de 20 a 40 anos de idade tem um percentual de aproximadamente 60% de água em seu corpo, que vai diminuindo com o avançar da idade. Mecanismos fisiológicos são capazes de monitorar automaticamente a quantidade de água que o organismo necessita e providenciar a conservação de um nível ótimo de hidratação.

Essa regulação da água corporal pode ocorrer pelo mecanismo da sede, que leva à ingestão de água, ou pela ação de hormônios antidiuréticos, que limitam a quantidade de água perdida pela urina.

A água necessária para o organismo é reposta através da ingestão de água pura e de outros líquidos como sucos, água de coco, chás, leites e soluções salinas, além da água presente em diversos alimentos como o alface, tomate, melancia, melão, abacaxi, laranja e etc.

Toda essa água que entra no organismo sai através da transpiração (suor), da respiração, da urina  e das fezes. A desidratação ocorre quando há alguma alteração entre a água que ingerimos e a água que é eliminada pelo corpo,  fazendo com que o percentual de água fique reduzido em um nível abaixo do normal.

Nesse caso, a perda de água é maior do que sua reposição, o que pode acontecer com qualquer pessoa, mas crianças e idosos estão mais vulneráveis à ocorrência desse quadro. Geralmente a perda de água é acompanhada da depleção de sais minerais como o sódio e o potássio, provocando um desequilíbrio hidroeletrolítico.

Em circunstâncias normais o organismo perde e repõe cerca de 2 a 3 litros de água por dia, mas a quantidade de água perdida pelo suor e urina, por exemplo, pode aumentar com o calor ou intensidade de exercícios, e a diminuição de água para reposição pelo corpo pode ser provocada pela ingestão insuficiente de líquidos, o que leva à uma desidratação leve.

No entanto, condições anormais como vômitos, diarréias, febre, excesso de urina ou de suor e grandes queimaduras implicam em grandes perdas líquidas, que podem levar a quadros de desidratação mais graves.

A água retida no organismo fica acumulada no interior dos vasos, nos espaços intercelulares dos tecidos e no interior das células. Quando a corrente sanguínea perde água, o corpo compensa essas perdas transferindo água dos espaços intercelulares e interior das células para os vasos. Mas este recurso é limitado e dura pouco tempo, já que logo o corpo passa a sentir os sinais da desidratação.

Dependendo da relação entre a perda de água e eletrólitos a desidratação pode ser:

  • Desidratação isotônica: a água e os sais minerais são perdidos em proporções equivalentes as que existem no organismo. Ocorre nos vômitos e diarreias em que não há transferência de água do meio intracelular para fora das células. É o tipo de desidratação encontrada em crianças pequenas.
  • Diarréia hipertônica: a perda de água é proporcionalmente maior que a perda de eletrólitos, como ocorre na falta de ingestão de água, sudorese excessiva, diurese osmótica e uso de diuréticos. Nesses casos há transferência de água intracelular para os espaços extracelulares. É comum em diabéticos e algumas crianças com diarréia.
  • Desidratação hipotônica: também chamada de hiponatremia. Nesse tipo de desidratação são perdidos mais sais do que água, como no caso de transpiração muito elevada, perda gastrointestinal ou quando a reposição é feita apenas com água, sem sais. Neste caso ocorre transferência de líquido extracelular para dentro da célula.

A desidratação hipotônica não corrigida pode levar ao edema cerebral, e perdas de líquido superiores à 10% do peso corporal podem até ser fatais. As desidratações crônicas aumentam os riscos de infecção, especialmente as infecções urinárias. A diminuição do fuxo sanguíneo no cérebro decorrente da desidratação pode causar confusão mental e afetar a coordenação.

Identificando a desidratação

Os principais sinais da desidratação são boca e mucosas secas, perda da elasticidade da pele, secura dos olhos e aumento da temperatura corporal.

A desidratação leve pode ocasionar sede, dores de cabeça, fraqueza, tonteiras, fadiga e sonolência.

A desidratação moderada inclui boca seca, diminuição da diurese, moleza, batimentos cardíacos acelerados e falta de elasticidade da pele.

A desidratação grave geralmente cursa com sede intensa, anúria (ausência de urina), respiração rápida, alteração do estado mental, pele fria e úmida.

A desidratação pode levar também à diminuição do desempenho físico e cognitivo e à alterações no funcionamento termorregulador e cardiovascular.

Soro caseiro: eficaz e barato

O soro caseiro é uma solução de reidratação oral criada pelo médico Norbert Hirschhorn em meados de 1964.

Os tratamentos de reidratação no período eram administradas por via endovenosa e muito caras.

Há muitos anos cientistas investigavam soluções que poderiam ser oferecidas por via oral compostas por água, açúcar e sal para tratar quadros de desidratação de forma acessível.

Sem sucesso, já que soluções muito concentradas testadas anteriormente, além de não funcionar, agravaram ainda mais os quadros de diarreia das crianças atingidas pela cólera na época das pesquisas.

Hirschhorn então se propôs a identificar as proporções corretas de cada ingrediente, já que a composição da mistura simula o líquido presente no interior do organismo, composto por água, mais sódio e glicose, encontrados respectivamente no sal e no açúcar.

A solução equilibra o meio interno, imitando o que acontece dentro do corpo.

A Unicef, fundo da Organização das Nações Unidas para a infância, afirma que nenhuma outra inovação médica do século “teve o potencial de evitar tantas mortes em um curto período de tempo custando tão pouco”.

Como o soro caseiro age no organismo?

Mas afinal, como essa solução tão simples tem a capacidade de salvar vidas expostas à risco pela desidratação?

A glicose é uma fonte energética que auxilia a absorção do sal, cuja composição atrai as moléculas de água, fazendo com que ela se mantenha dentro dos vasos.

Sal e açúcar são, portanto, como portas de entrada da água nas células do organismo, pois na ausência da mistura, a ingestão da água pura não hidrata, já que o corpo não consegue reter o líquido.

O soro caseiro deve ser ingerido quando vários sinais de desidratação se manifestarem juntos, ou estes indiquem uma perda de líquidos moderada à grave, especialmente quando houver quadros de diarréia e vômitos.

Receita de soro caseiro

Segundo o Ministério da Saúde, você pode fazer o soro caseiro da seguinte forma:

“Misture em um litro de água mineral, de água filtrada ou de água fervida (mas já fria) uma colher pequena (tipo cafezinho) de sal e uma colher grande (tipo sopa) de açúcar. É importante misturar bem e ofereça o dia inteiro ao doente em pequenas colheradas.”

Para evitar erros na quantidade e possibilitar o preparo do soro caseiro em pequenos volumes, a Pastoral da Criança adota uma colher-medida que é distribuída gratuitamente para as famílias, com crianças e gestantes, acompanhadas pela Pastoral da Criança no Brasil e nos demais 11 países em que a organização social atua.

Para preparar o soro caseiro utilizando essa colher-medida basta adicionar à um copo de 200 ml de água filtrada, uma medida rasa de sal e duas medidas rasas de açúcar.

A quantidade feita deve ser tomada dentro de 24 horas. Se for necessário tomar soro por mais dias, deve ser preparada uma nova receita a cada dia.

Lembre-se que a desidratação sempre deve ser prevenida, uma vez que suas consequências são desagradáveis e nocivas à saúde, prejudicam o metabolismo, provocam prejuízo ao desempenho cognitivo e físico e pode, em casos mais graves, levar a desfechos fatais.

O diagnóstico de desidratação deve ser confirmado por orientação médica, e acompanhado com atenção se for recorrente.

Agumas medidas são essenciais para prevenir a desidratação, especialmente a que ocorre por quadros de vômitos e diarréias, que podem ser provocados pela contaminação por agentes infecciosos, como:

  • Amamentar o recém-nascido no mínimo até os seis meses de vida;
  • Beber somente água tratada, filtrada ou fervida;
  • Beber bastante líquidos, principalmente nos dias mais quentes;
  • Observar se os encanamentos da residência não estão furados;
  • Manter os depósitos de água sempre fechados e fazer limpeza regularmente;
  • Não tomar banho em rio, açude ou piscina contaminada;
  • Manter a higiene da casa, pessoal e dos utensílios de mesa e fogão;
  • Lavar as mãos com água e sabão antes de preparar os alimentos, antes de amamentar, após a troca de fraldas de crianças ou após usar o banheiro;
  • Proteger os alimentos de moscas, baratas e ratos;
  • Lavar cuidadosamente as verduras e frutas.

Uma alimentação saudável não contempla apenas o cuidado com a prática de uma dieta equilibrada.

Manter a hidratação do corpo em dia, antes mesmo de começar a sentir sede é muito importante para o bom funcionamento do organismo e inclusive para evitar a retenção de líquidos e promover uma perda de peso saudável.

Quer se sentir bem?! Beba água!

Referências:

  1. Federação das APAES do estado de São Paulo >Home >Materiais para o download >Desidratação. Disponível em http://feapaesp.org.br/material_download/186
  2. BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde >Dicas em saúde > Diarréia e desidratação. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/214_diarreia.html
  3. Revista Super Interessante > Redação Mundo Estranho >Saúde > Por que se usa sal, açúcar e água na preparação do soro caseiro? Abril Mídia. Disponível em https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-se-usa-sal-acucar-e-agua-na-preparacao-do-soro-caseiro/
  4. BBC Brasil >News >Health Check >Conheça o médico que salvou mais de 50 milhões de vida com receita caseira. Disponível em https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/08/140729_saude_hirschhorn_hb
  5. Pastoral da Criança >Home > Soro caseiro. Disponível em https://www.pastoraldacrianca.org.br/soro-caseiro

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