Super guia de alimentação para bebê com anemia

A anemia na infância é mais comum do que se imagina: a prevalência de anemia em bebês e crianças abaixo de 5 anos pode chegar ao valor, no mínimo assustador, de 73,2%.

A principal causa de anemia infantil ocorre pela deficiência de ferro aguda, o que acontece quando existe restrição do mineral Ferro na alimentação, provocando a anemia ferropriva.

O Que é a Anemia?

A anemia é caracterizada pelos níveis anormais de hemoglobina devido a condições patológicas.

As causas incluem: deficiência de ferro, infecções crônicas, particularmente a malária e deficiência de outros micronutrientes, como o ácido fólico e vitamina B12.

Consequências da Anemia Ferropriva

A anemia por deficiência de ferro pode causar danos no desenvolvimento psicomotor dos bebês:

  • Mal desenvolvimento da linguagem;
  • Falta de Atenção;
  • Fadiga;
  • Insegurança;
  • Redução da atividade física.

Os sintomas mais frequentes da anemia ferropriva são: debilidade física, irritabilidade, dores de cabeça, palpitações e dormência.

Anemia nos Bebês

Apesar da amamentação ser essencial para o bebê, a concentração de ferro no leite materno é baixa. Dessa forma, as reservas de ferro ao nascimento é determinante na ocorrência de anemia infantil.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que 41,8% das gestantes no mundo sejam anêmicas, o que só enfatiza a importância do pré natal.

Importância do Leite Materno e da Alimentação Complementar

O aleitamento materno exclusivo até os 6 meses de vida e a manutenção do leite materno a partir dessa idade, juntamente com a alimentação complementar, estão associados à menor prevalência de anemia.

O risco de anemia para bebês que realizam alimentação artificial é cerca de três vezes maior, do que entre os bebês que recebem exclusivamente o leite materno até os 6 meses.

Bebês que recebem aleitamento misto também possuem maior risco (cerca de duas vezes) de desenvolver anemia.

Entenda o Risco

Enquanto os bebês absorvem entre 50-70% do ferro presente no leite materno, essa absorção é de apenas 10% no leite de vaca.

Dessa forma, a introdução precoce do leite de vaca na alimentação infantil causa impacto negativo nos estoques de ferro do bebê. Além disso, o leite de vaca pode provocar microhemorragias no trato gastrointestinal do bebê, devido a sua imaturidade.

E mais, a absorção de ferro do leite materno pode reduzir em até 80%, no caso da inserção de outros alimentos na dieta do bebê.

Guia de Alimentação Para O Seu Bebê

Tendo respeitado e seguido todas as orientações do pré natal, e realizado o aleitamento exclusivo para o seu bebê até os 6 meses, chega o próximo passo a ser cumprido: A correta introdução da alimentação complementar.

Muitas dúvidas podem surgir nesse passo, e você pode saber mais detalhes sobre esse processo em nosso artigo “Quando e como iniciar a alimentação complementar dos bebês”.

Aqui, vamos focar em explicar os mecanismos nutricionais para prevenir a anemia nessa fase, e como fornecer uma alimentação para o bebê com anemia de forma eficiente.

Ferro Heme e Ferro Não-Heme: O Que São?

O ferro nos alimentos pode se apresentar de duas formas distintas:

  • Ferro Heme: o ferro que está inserido no núcleo da Hemoglobina – presente em alimentos de origem animal (carnes e vísceras).
  • Ferro Não-Heme: o ferro que está livre, fora da Hemoglobina – presentes nos ovos e em alimentos de origem vegetal.

Os mecanismos de absorção entre essas duas diferentes formas de ferro são também diferentes, o que influencia na sua biodisponibilidade.

O ferro heme presente nas carnes possui absorção em torno de 20% a 30%. Já o ferro não heme, presente nos ovos, cereais, leguminosas e nas hortaliças, possui apenas de 2% a 10% de absorção pelo organismo.

Fatores que Potencializam ou Inibem a Absorção de Ferro

Agora que você já sabe a diferença entre os tipos de ferro presentes nos alimentos, veja algumas substâncias que valorizam a sua absorção:

  • Ácido ascórbico (vitamina C) e ácido cítrico;
  • Vitamina A e betacaroteno;
  • Carnes;
  • Alguns aminoácidos (glicina, lisina, histidina e metionina).

Substâncias que inibem a absorção de ferro:

  • Polifenóis (chá, café, espinafre, berinjela, lentilha);
  • Ácido oxálico (espinafre, chocolate);
  • Fitatos (aveia, germen/farelo de trigo e arroz, lentilha);
  • Cálcio e Fosfato (hidrolisados proteicos de soja, proteínas do leite e do ovo);
  • Manganês, Zinco, Cobre, Cádmio, Cobalto.

Estratégias Nutricionais

Apesar de alguns alimentos possuírem menos ferro, ou que apresentem menor biodisponibilidade desse mineral, isso não significa necessariamente que eles não devam ser oferecidos ao seu bebê.

Existem algumas estratégias nutricionais em que se consegue favorecer a absorção do ferro, seja ele heme ou não-heme. Confira algumas a seguir.

Carne Cozida

Quando for oferecer carne para o seu bebê, faça-a cozida e não frita. Aproveite o caldo do cozimento.

Ovos

Apesar do ovo conter fatores antinutricionais que diminuem a biodisponibilidade do ferro, ele pode ser oferecido ao bebê com anemia. Dê apenas a gema, juntamente com outros alimentos que favorecem a absorção de ferro não-heme, como a poupa ou molho de tomate.

Feijão

O feijão, apesar de ser fonte de ferro, tem esse mineral muito pouco biodisponível. Para melhorar a absorção de ferro no feijão, deixe-o de molho por algumas horas antes do cozimento. Retire sua película antes do consumo.

Panela de Ferro

Utilize panelas de ferro para cozinhar a comida do seu bebê, para promover o aumento do teor de ferro nos alimentos.

Vitamina C

Como dito anteriormente, a vitamina C auxilia na absorção do ferro não-heme. Para atingir a recomendação de vitamina C diária do seu bebê, você pode oferecer os seguintes alimentos: ½ laranja, ou 1 kiwi, ou ¼ de goiaba, ou 1 copo de suco de fruta. Ofereça logo após as principais refeições.

Qual a Recomendação de Ferro para o meu Bebê?

Para bebês de até 2 anos, a recomendação de ferro que deve ser obtida pela alimentação complementar é de 4 mg/100 kcal (entre 6 e 8 meses), 2,4 mg/100 kcal (entre os 9 e 11 meses) e de 0,8 mg/100 kcal (entre 12 e 24 meses).

Como os bebês possuem um estômago bem pequeno, é natural que comam em pequenas quantidades. Assim, para a prevenção e tratamento da anemia ferropriva, recomenda-se o consumo de alimentos enriquecidos e fortificados com ferro.

Alimentos Fortificados e Enriquecidos com Ferro

Exemplos comuns de alimentos fortificados com ferro são a farinha trigo e a farinha de milho (cada 100 g contém no mínimo 4,2 mg de ferro).

Já o leite, além de todos os efeitos prejudicais aos bebês já citados, mesmo quando enriquecido com ferro continua a apresentar maior tendência a absorção de cálcio em detrimento do ferro. Isso ocorre pois existem fatores que aumentam a biodisponibilidade do cálcio no leite, como a lactose e a vitamina D.

Suplementação de Ferro para bebês

O Ministério da Saúde (Programa Nacional de Suplementação de Ferro) recomenda a utilização de suplementação de ferro para bebês entre 6 meses e 2 anos, tanto como forma de prevenção, como no controle e tratamento da anemia ferropriva.

É muito importante o acompanhamento do Pediatra ou Nutricionista, visando estabelecer a melhor dosagem do suplemento para o seu bebê.

Alimentos Ricos em Ferro

Para prevenir e também para auxiliar no tratamento da anemia ferropriva, é crucial que a alimentação do bebê seja adequada.

Confira essa lista de alguns alimentos ricos em ferro que não podem faltar na alimentação do seu bebê com anemia:

Fontes de Ferro heme

  • Fígado de boi – Ofereça de 50 a 100g uma vez por semana, picado e bem cozido;
  • Carne vermelha magra (especialmente a bovina), Aves, Atum, Salmão – Oferecer de 50g a 100g por dia.

Fontes de Ferro não-heme

  • Verduras verde escuras – Couve, Aspargo, Brócolis;
  • Farinhas enriquecidas com ferro – Farinha de trigo, Farinha de milho;
  • Grãos integrais ou enriquecidos – Arroz integral, Aveia, Cevada, Painço;
  • Leguminosas – Feijão, grãos de soja, ervilha, lentilha, grão de bico;
  • Oleaginosas – Amêndoas, Castanha do pará;
  • Gema de ovo;
  • Frutas secas – uva passa, damasco, ameixa.

Lembrando que, como o ferro não-heme possui baixa biodisponibilidade, recomenda-se a ingestão, durante ou logo após a refeição, de alimentos que aumentem a absorção do ferro.

Vitamina C – frutas cítricas. Exemplos: laranja, kiwi, acerola, limão, caju, tangerina, goiaba, abacaxi.

Vitamina A – frutas e legumes de cor amarela ou alaranjada e verduras verde escuras. Exemplos: manga, mamão, abóbora, cenoura, abacate, melancia, caqui, melão cantalupo, couve, bertalha, brócolis, chicória.

Como Acompanhar o Tratamento do meu Bebê

O bebê com anemia deve ser acompanhado por um Pediatra e Nutricionista.

Isso é muito importante para que a suplementação e a alimentação do bebê sejam realizadas da maneira correta, atendendo não só as exigências nutricionais de ferro para prevenir e tratar a anemia, bem como de todos os outros nutrientes importantes para o seu bebê.

Referências:

  1. Accioly, E.; Saunders, C.; Lacerda, EMA. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 2ᵃ ed. Cultura Médica, 2012.
  2. Krause, MV. Mahan, LK. Escott-stump, S. Krause – Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 12ᵃ ed. 2ᵃ tiragem. São Paulo:Roca, 2010.
  3. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa Nacional de Suplementação de Ferro – Manual de Condutas Gerais. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/guia_gestantes.pdf

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