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Tríade da mulher atleta: já ouviu falar?

Mulheres em todas as fases da vida podem se beneficiar da prática de exercícios físicos e dar uma turbinada no seu corpo e na sua qualidade de vida!

Os efeitos da prática regular de atividade física são diversos e muito conhecidos, afinal:

Em praticantes de atividades físicas regulares e saudáveis verificamos um equilíbrio corporal entre o consumo alimentar, a função endócrina (produção hormonal ligadas ao metabolismo), a saúde óssea e o ciclo menstrual.

Porém, com a realização constante de exercícios físicos muito intensos, podemos encontrar algumas complicações, principalmente entre as crianças, os adolescentes e as mulheres atletas.

Hoje em dia vemos cada vez mais uma busca por um corpo escultural e por padrões de beleza que não são possíveis para diferentes tipos de pessoas, além disso, no meio esportivo se vê uma cobrança da própria atleta em não só ter uma boa apresentação corporal, como um desempenho exemplar nos treinamentos e competições.

É muito comum que os homens em sua juventude sejam incentivados a aumentar seus músculos e seu peso corporal, a fim de melhores desempenhos físicos, no entanto, a maioria das mulheres acaba sendo impulsionada a perder peso e a ficar cada vez mais “leve” para atingir tal melhoria esportiva, o que pode trazer graves prejuízos à saúde dessas atletas.

Atualmente vemos cada vez mais mulheres se destacando nas práticas de exercícios a nível de competição e o principal medo dos treinadores que acompanham as atletas é com relação a “Tríade da Mulher Atleta”, termo utilizado pela primeira vez em 1997, pelo American College of Sports Medicine (ACSM).

O que é a Tríade da Mulher Atleta?

Essa tríade é caracterizada por três complicações principais: distúrbio alimentar, amenorreia e osteoporose. Vamos entender melhor:

Distúrbio alimentar

Engloba diversos comportamentos alimentares fora dos padrões saudáveis, que pode variar entre pequenas restrições alimentares e transtornos alimentares muito graves, como a anorexia (ausência parcial ou total de refeições no dia) e a bulimia (consumo elevado de calorias em curto espaço de tempo, seguido de provocamento de vômitos ou uso de medicamentos laxativos) com a finalidade de se enquadrar em um peso mínimo e ter uma apresentação estética de acordo com os padrões da modalidade esportiva.

Leia mais sobre esses transtornos alimentares aqui!

A ingestão alimentar insuficiente pode, então, alterar a atividade dos eixos hipotálamo-hipófise e afetar a produção de hormônios envolvidos na função menstrual e também no metabolismo ósseo, contribuindo para o aparecimento da amenorreia e da osteoporose.

Amenorreia

A amenorreia nada mais é do que a ausência do ciclo menstrual, que pode ser:

Para se ter ideia, a amenorreia secundária atinge mais de 60% das atletas de elite norte americanas, e algumas de suas possíveis causas são: perda de peso, excesso de treino, quantidade insuficiente de gordura corporal, perda de estoques específicos de gordura corporal e dieta inadequada.

Osteoporose

O osso é uma estrutura do corpo que precisa se manter saudável, e isso acontece mediante a remodelação do osso velho em osso novo. A osteoporose ocorre quando o corpo deixa de formar massa óssea nova suficiente, ou quando muito material dos ossos antigos é reabsorvido pelo corpo. Se os ossos não estão se renovando como deveriam, ficam cada vez mais fracos e sujeitos a fraturas.

Como consequência da amenorreia, as atletas podem desenvolver osteoporose precoce. Há indícios de que a falta de estrógeno (hormônio feminino), a dieta inadequada e o consumo insuficiente de cálcio são fatores que as predispõem a desenvolver a doença.

Ainda, como consequência dessas complicações, a tríade da atleta também prejudica a saúde da mulher das seguintes formas:

Alteração de humor: o desequilíbrio de hormônios ligados ao estresse aumenta a irritabilidade e a sensação de tristeza, gerando um isolamento social;

Imunidade sempre em queda: aparecimento constante de doenças e infecções respiratórias (resfriados, sinusite, dores de garganta, pneumonia);

Dificuldade em aumento de massa muscular: as mulheres afetadas pela tríade apresentam um ganho prejudicado de músculos;

Menor desempenho esportivo: o que ocorre principalmente pela falta de energia e disposição, além do maior risco de lesões;

Dislipidemia: alterações da quantidade de “gordura” no sangue, prejudicando as taxas de colesterol e triglicerídeos;

Alterações reprodutivas: devido as alterações hormonais geradas pelo baixo percentual de gordura corporal, já que boa parte dos hormônios reprodutores são gerados/metabolizados a partir do tecido adiposo;

Piora da cognição: prejuízo da concentração, da coordenação motora e da memória, muitas vezes ligado a deficiência de vitaminas e minerais.

Também já é muito conhecido que a manutenção de um baixo peso e a redução de percentual de gordura influencia diretamente no amadurecimento dos hormônios sexuais de adolescentes, portanto, um treinamento físico muito intenso aplicado precocemente e de maneira irresponsável, pode ter relação com o atraso da puberdade, sendo muito comum em praticantes de modalidades como, por exemplo, natação, corrida, balé e tênis.

Cabe lembrar que o maior problema da tríade da mulher atleta é que, muitas vezes, seus sintomas são negados ou não reconhecidos por profissionais da área, gerando ainda mais prejuízos à qualidade de vida da atleta.

O que podemos fazer para reverter esse quadro?

Quando essas três complicações estão presentes na mulher, torna-se indispensável um tratamento envolvendo psicólogos, médicos, nutricionistas e técnicos, com o objetivo de resgatar a saúde desta atleta e seu desempenho.

Um questionário básico onde se avalia: alterações no período menstrual, alimentação fora do padrão, mudança rápida de peso corporal, alterações dos batimentos do coração, depressão e fraturas ósseas ou musculares por estresse do treino deve ser aplicado com frequência entre atletas mulheres de alto rendimento.

Os treinadores devem levar em consideração um planejamento responsável do período de treinamento, montando um sistema mais equilibrado de cargas de treino que devem ser adaptadas ao nível de maturidade da atleta, possibilitando o desenvolvimento gradual do nível técnico sem comprometer a saúde da mulher.

O acompanhamento nutricional é extremamente importante para a suplementação de macronutrientes e de vitaminas e minerais, seja de forma isolada ou através da própria alimentação, uma vez que é possível ajustar o consumo alimentar e a quantidade de treino exercida, assim, em períodos de maior gasto calórico serão feitas estratégias para chegar ao resultado esperado sem comprometer sua saúde.

Além disso, é essencial a observação constante de exames de sangue, a fim de avaliar possíveis alterações hormonais e de deficiências nutricionais.

O acompanhamento psicológico também é crucial, principalmente nos períodos que antecedem as grandes competições, momentos nos quais as atletas passam por pressões psicológicas e emocionais.

Um ponto que também deve ser levado em conta é a presença saudável da família na vida dessa atleta. É responsabilidade dos pais ou dos responsáveis evitar a realização de dietas restritivas e de treinamentos muito exaustivos de maneira constante, além de dar condições para que bons profissionais acompanhem o desenvolvimento esportivo da atleta.

O tratamento da tríade da mulher atleta é longo, uma vez que a mulher precisa ter um ciclo completo de 9 menstruações consecutivas para recuperação, caso haja interrupção, volta-se a estaca zero e todos os procedimentos devem recomeçar.

Inclusão de algumas práticas alimentares ajudam nesse processo de recuperação:

Referências:

  1. ARENDT, E. A. Stress fractures and the female athlete. Clinical orthopaedics and related research, Philadelphia, n. 372, p. 131-138, Mar. 2000. Disponível em: https://journals.lww.com/clinorthop/Fulltext/2000/03000/Stress_Fractures_and_the_Female_Athlete.15.aspx
  2. TAKADA, S. R.; LOURENÇO, M. R. A. Menarca tardia e osteopenia em atletas de Ginástica Rítmica: uma visão de literatura. UNOPAR Cient., Ciênc. Biol. Saúde, Londrina, v. 5/6, n. 1, p. 41-47, out. 2003/2004. Disponível em: http://www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/JHealthSci/article/view/1636
  3. Carol L. Otis; Barbara Drinkwater; Mimi Johnson; Anne Loucks; Jack Wilmore. A tríade da mulher atleta. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, Esporte vol. 5 n°4. Niterói Agosto 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-86921999000400007
  4. Dolores P. Pardini. Alterações hormonais da mulher atleta. Arq Bras Endocrinol Metab vol.45 no.4 São Paulo Aug. 2001. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27302001000400006