O que é anorexia e tratamentos indicados

Vivemos imersos em um cotidiano que cobra, rotula e padroniza, principalmente o corpo feminino. Esses aspectos pré definidos como “modelos” de corpo perfeito, peso ideal, entre outros padrões, podem levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares graves como a anorexia!

Os transtornos alimentares (anorexia nervosa, bulimia nervosa e suas variantes) são quadros psiquiátricos que afetam principalmente adolescentes e adultos jovens do sexo feminino (cerca de 90% dos casos), levando a grandes prejuízos à saúde física e mental das mesmas. Além disso, transtornos alimentares como a anorexia apresentam elevado índice de mortes.

Mas o que é a anorexia e como ela pode ser tratada?

O que é anorexia

O termo anorexia tem origem grega, e significa falta de apetite. Porém, os pacientes anoréxicos não sofrem de falta de apetite, à não ser no final da doença.

A anorexia nervosa envolve fatores biológicos, individuais, familiares e sociais.

“Na prática” caracteriza-se por recusa do indivíduo em manter um peso adequado para a sua altura (mantendo um IMC sempre mais baixo do que o considerado saudável), medo doentio de engordar, acompanhado por emagrecimento intenso, em virtude do baixo consumo energético ou da realização de jejum, além disso, as mulheres podem parar de menstruar (a chamada amenorreia) e ocorrem diversas outras complicações como o acometimento frequente por doenças, problemas de coração, no fígado, etc.

Ocorre, frequentemente, um engano quanto à auto imagem corporal, ou seja, as pacientes tem uma percepção distorcida do formato do corpo. É como se elas se olhassem no espelho e sempre enxergassem alguém acima do peso, assim sendo, os pensamentos se tornam voltados única e exclusivamente para a magreza, na busca do peso corporal  que elas acreditam ser o ideal.

Os pacientes acreditam estar obesos e então adquirem uma obsessão por emagrecer (a qualquer custo). Dessa maneira, passam a não ter uma relação positiva com os alimentos, desenvolvendo mitos e rituais onde só as calorias importam.

A baixa auto-estima, bem como a distorção da imagem corporal são os principais componentes que reforçam a busca de um emagrecimento incessante e brusco, levando à prática exagerada de exercícios físicos, dietas radicalmente restritivas, jejum prolongado e uso de laxantes ou diuréticos de uma forma ainda mais intensa.

A anorexia se instala de maneira lenta e progressiva, podendo ser “dividida” em 3 fases:

Fase 1:

Acontece o desencadeamento e a instalação propriamente dita do transtorno, quando o indivíduo pode deixar de se alimentar como resposta a um evento importante, como um luto, um acidente, uma separação, uma decepção, etc. A aversão ao “se alimentar” não é superada, pelo contrário, continua e evolui de forma lenta e progressiva;

Fase 2:

Na segunda fase, a depressão, o desconforto e o mal estar da primeira fase dão lugar a um “certo equilíbrio”, um relativo otimismo e uma sensação de “bem estar”. A dieta alimentar autoimposta se torna cada vez mais rígida, chegando a alcançar graves restrições alimentares.

Os sintomas clínicos de anemia ou de qualquer outra doença orgânica ainda não se mostram presentes e os pacientes costumam ficar bem dispostos e alegres. O único sintoma aparente é a perda de peso. No entanto, nesse momento os familiares começam a se preocupar, se mostram incomodados e inquietos com a despreocupação do anoréxico diante do próprio emagrecimento. Alguns passam, então, a adverti-los sobre esses sintomas e podem até procurar ajuda profissional. Contudo, essa reação da família pode provocar um aumento de resistência por parte do anoréxico;

Fase 3:

O terceiro período da evolução do distúrbio é marcado pelas falhas que o organismo começa a apresentar devido às restrições alimentares muito severas, tais como a falta de menstruação, mau funcionamento do intestino (inclusive começa a ocorrer má absorção de nutrientes, o que agrava ainda mais o quadro), a diminuição da elasticidade acompanhada da opacidade da pele, etc.

Vale esclarecer ainda que os transtornos alimentares apresentam fatores predisponentes (aqueles que tornam o indivíduo mais susceptível a desenvolver o quadro), precipitantes (os chamados gatilhos – luto, decepção, etc – que são as situações que culminam no início, nesse caso, do transtorno alimentar) e mantenedores (são os fatores que fazem tais comportamentos não serem superados e ao invés disso, mantidos).

Fatores predisponentes: genéticos (doenças psiquiátricas na família), biológicos (tendência à obesidade e outros), neurológicos (alterações nos sistemas do cérebro, por exemplo), personalidade (baixa autoestima, perfeccionismo, rigidez ou impulsividade), fatores familiares (dinâmicas familiares marcadas por superproteção, rigidez excessiva, falta de afetos), socioculturais (supervalorização da magreza e grande oferta de alimentos) e outros.

Fatores precipitantes: dieta para perder peso, perdas ou separações.

Fatores mantenedores: alterações nos sistemas do nosso organismo, distorção da imagem corporal, práticas purgativas (uso de laxantes entre outros métodos para perda de peso), alterações psicológicas e fatores socioculturais.

A identificação desses fatores pode ajudar familiares, educadores e outros profissionais que trabalham com adolescentes a buscar uma intervenção clínica a tempo.

Resumo:

A anorexia é uma doença multifatorial que envolve fatores psicológicos e psiquiátricos, ambientais e sociais. A principal característica com relação ao comportamento do paciente é medo doentio de ganhar peso, assim a relação com os alimentos deixa de ser prazerosa e surge um comportamento alimentar extremamente restritivo, além de levar ao uso de métodos danosos à saúde como o uso de remédios, entre outros “rituais e técnicas”. Acomete principalmente o público jovem do sexo feminino.

Vale esclarecer ainda que os transtornos alimentares apresentam fatores predisponentes (aqueles que tornam o indivíduo mais susceptível a desenvolver o quadro), precipitantes (os chamados gatilhos – luto, decepção, etc – que são ao situações que culminam no início, nesse caso, do transtorno alimentar) e mantenedores (são os fatores que fazem tais comportamentos não serem superados e ao invés disso, mantidos).

Como identificar a anorexia

De maneira geral, para identificar a anorexia é preciso observar alguns sintomas e comportamentos alimentares bem característicos, tais como:

  • manutenção do peso corporal inferior a 85% do que é considerado adequado para a altura e idade;
  • costumam relatar medo extremo de engordar;
  • alteração da percepção da imagem corporal, como dito anteriormente, o que elas enxergam no espelho não condiz com o peso real, uma vez que elas sempre julgam estar acima do peso;
  • o medo de ingerir carboidratos e gorduras é evidente, enquanto o consumo de proteínas, normalmente, está dentro da porcentagem que deve ser ingerida, apesar do total ser inadequado e sua utilização comprometida pela ingestão total insuficiente;
  • também é muito comum observar perda de massa muscular e gordura corporal (a ponto de, nos estágios mais avançados, os ossos das costelas, clavículas e quadril, por exemplo, ficarem totalmente evidentes), os cabelos ficam finos e fracos;
  • pessoas anoréxicas normalmente tem baixa tolerância ao frio, são desidratadas, e apresentam distúrbios gastrointestinais, o coração “bate descompassado”, entre outros sintomas.

Tratamento para anorexia

De acordo com o descrito acima, pode-se observar que o tratamento da anorexia é complexo e deve integrar vários profissionais da área da saúde, desde médicos, nutricionistas e psicólogos. Isso porque se trata de um transtorno que permeia a saúde como um todo (mental e física)!

Para se ter uma ideia, um estudo que reuniu mais de 100 estudos sobre anorexia e tratamento, concluiu que somente cerca de 50% das pacientes se “recuperam totalmente” (e isto quer dizer o restabelecimento do peso, a normalização dos comportamentos alimentares e o retorno da menstruação regular). Outros 30% experienciam uma recuperação parcial caracterizada por algum tipo de resíduo ou distúrbio no comportamento alimentar e pela falta de habilidade para manter o peso normal. E, finalmente, nos 20% restantes, a doença assume uma forma crônica, não apresentando qualquer sinal de remissão e em muitos casos levando à morte.

Nesse sentido, o que se procura alcançar com as pacientes com anorexia é:

  • o restabelecimento dos padrões normais de alimentação (pois 50% das anoréxicas apresentam compulsão alimentar, portanto, esta é uma das principais metas de intervenção do tratamento);
  • promover uma autorregulação do peso corporal;
  • reduzir (eliminando) atitudes purgativas ou mesmos restritivas para, finalmente, criar a motivação para a mudança.

Resumo:

A anorexia é um transtorno que inspira cuidados de uma equipe interdisciplinar e o que se procura alcançar com as pacientes com anorexia é:

  • o restabelecimento dos padrões normais de alimentação (pois 50% das anoréxicas apresentam compulsão alimentar, portanto, esta é uma das principais metas de intervenção do tratamento);

  • promover uma autorregulação do peso corporal;

  • reduzir (eliminando) atitudes purgativas ou mesmos restritivas;

  • criar a motivação para a mudança.

Referências:

  1.  de Abreu, C. N., Filho, R. C. Anorexia Nervosa and Bulimia Nervosa – a Psychotherapeutic Cognitive Constructivist Approach.  Rev. Psiq. Clin. 31 (4); 177-183, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v31n4/22405.pdf
  2. Alves, E., Vasconcelos, F. A. G., Calvo, M. C. M., Neves, J. Prevalence of symptoms of anorexia nervosa and dissatisfaction with body image among female adolescents in Florianópolis, Santa Catarina State, Brazil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 24(3):503-512, mar, 2008. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csp/2008.v24n3/503-512/
  3. Lima, N. L. de, Rosa, C. de O. B., Rosa, J. F. V. Identificação de fatores de predisposição aos transtornos alimentares: anorexia e bulimia em adolescentes de Belo Horizonte, Minas Gerais.Estud. pesqui. psicol.,  Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 360-378, ago. 2012. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812012000200003
  4. Duner, K. L. L., Phillippi, S. T. Sintomas de anorexia em adolescente de São Paulo e propostas de intervenção. In: Philippi, S. T., Alvarenga, M., organizadores. Transtornos alimentares: uma visão nutricional. Barueri: Editora Manole; 2004, pg. 163-76.
  5. Andrade, A., Bosi, M. L. M. Mídia e subjetividade: impacto no comportamento alimentar feminino.Revista de Nutrição, Campinas, v. 16, n. 1, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732003000100012&lng=pt&nrm=iso

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